Nota de www.rainhamaria.com.br
Diz na Sagrada Escritura:
"Sei que depois da minha partida se introduzirão entre vós lobos cruéis, que não pouparão o rebanho". (Atos dos Apóstolos 20, 29)
"Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas". (São Mateus 10, 16)
PERCEBEMOS QUE ESTAMOS EM PLENO VATICANO III?
Graças a Deus, ainda há alguns bons cristãos que observam o perigo que, mais cedo ou mais tarde, tentará mudar-lhes a fé debaixo de seus narizes. Armados com uma espingarda, a Doutrina e o Evangelho, eles se colocam atrás da mureta do próximo sínodo sobre a família para descobrir se os comportamentos homossexuais, a concubinagem, os divorciados recasados, e outras “mundanizações”, se tornarão moeda de uso nos documentos da Santa Igreja Romana.
Ou ainda eles se camuflam nas desoladas periferias existenciais, enquanto se aguarda alguma página magisterial que onde seja colocado, preto no branco, que tudo está definitivamente mudado. Contudo, além de estarem equipados com armas obsoletas, e mal compreendidos, eles ficam a espreita no lugar errado.
"Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores". (Mateus 7, 15)
Doravante, os lugares onde se luta para salvar a fé e a doutrina não são mais aqueles tradicionalmente consagrados para tal cargo. Os católicos inovadores e os “mundanizantes” sabem bem que o segredo do poder se esconde naquela linha do “Guepardo”, na qual Tancredo Falconeri professa que “se queremos que as coisas continuem como elas são, é preciso mudar tudo”. Porém eles, ironicamente clericais, a inverteram imperceptivelmente na enigmática “se queremos que tudo mude, é preciso que tudo continue igual”. Lá onde a dogmática não pode nada, eis que chega a pastoral, de modo que a prática devora a teoria sem que ninguém tenha nada a opor: tudo muda quando tudo parece inalterado.
Na década de 40 do século passado, Ernesto Buonaiuti, o príncipe dos modernistas, tinha teorizado isso. “Até agora, explicava ele, quiseram reformar Roma sem Roma, ou mesmo contra Roma. Devemos reformar Roma com Roma, fazer de modo que a reforma passe através das mãos daqueles que precisam ser reformados. Eis o verdadeiro método, o método infalível. Porém ele é difícil. (…) O culto exterior durará para sempre, como a hierarquia, mas a Igreja, enquanto mestra dos sacramentos e de suas ordens, modificará a hierarquia e o culto de acordo com as épocas: ela tornará a primeira mais simples e mais liberal, e a segunda, mais espiritual; e por essa via, ela se tornará um protestantismo; mas um protestantismo ortodoxo, gradual, e não violento, agressivo, revolucionário, insubordinado”.
E hoje, diante de uma operação advinda de modo quase irreversível, os bons cristãos armados com uma espingarda, a doutrina e o Evangelho, se encontram desorientados e vão à caça do adversário, onde eles nunca serão encontrados. Eles estão convencidos de que, como no tempo das velhas heresias, a doutrina é combatida a golpes de doutrina; os princípios, a golpes de princípios; os dogmas, a golpes de dogmas, porque eles continuam a aplicar categorias e métodos lançados silenciosamente ao mar desde o concílio Vaticano II.
Mas isso ainda não é nada, porque doravante até mesmo o mítico Concílio está ultrapassado. Não há papa que o tenha citado tão pouco quanto Francisco, que não se preocupa praticamente com a hermenêutica da ruptura, e menos ainda com a da reforma na continuidade.
De agora em diante, o mundo católico vive em pleno Vaticano III, convocado e celebrado pela via midiática. A localização romana foi substituída por um plenário global, o que não teria preocupado Marshall McLuhan, que foi capaz de definir o príncipe desse mundo como um grande engenheiro eletrônico.
Os esquemas preparatórios têm sido preparados e difundidos pelas mídias e a discussão está voluntariamente aberta à menor corrente de vento mundana. E, pouco a pouco, serão redigidos esses cânones aos quais o Vaticano II teria falhado por medo da modernidade. Contudo, de acordo com os preceitos do guepardismo clerical-inovador, a mudança será disfarçada pela grande ilusão de que tudo permanecerá sempre igual. E é por isso que caberá ao mundo comunicar a mudança em curso dentro da Igreja, a qual, ao contrário, abster-se-á de ratificá-la formalmente.
Há cinquenta anos, na era geológica do Vaticano II, ainda se acreditava que a fórmula “anathema sit”, lançada a partir de uma cidadela, em nome e por conta de Deus, deveria concretizar em poucas, breves e claríssimas linhas, a condenação do erro e da heresia. É por isso que os Padres conciliares ficaram com um pé atrás: a trégua com o mundo exigia a incerteza, a dúvida, a ambiguidade oportunamente interpretada sob a forma de dialogo e de conciliação, e não através de uma declaração explícita.
Agora que a união com a modernidade, encarnada pelo pontificado de Francisco, foi confirmada e aclamada tanto dentro quanto fora da Igreja, não há mais hesitação. O “anathema sit” está novamente em voga, mas em nome e por conta do mundo e, em respeito à natureza midiática, onde se justifica tal acontecimento, não mais sob uma constituição ou um decreto, mas sobre as primeiras páginas dos jornais.
Desde o “Quem sou eu para julgar?”, pronunciado sobre a questão homossexual, que em 0,21 segundos conduz a 360 mil resultados no Google, até a excomunhão lançada contra a máfia sobre a esplanada de Sibari, anátema que gera 412 mil resultados em 0,35 segundos, é fácil se fazer uma ideia das regras que o mundo destilará a partir da exposição papal.
Porém é fácil predizer que logo o tiro se deslocará para dentro dos muros, e os primeiros a cairem, como tantos “zuavos (pontifícios)” na Porta Pia, serão os bons cristãos armados de espingarda, Doutrina e Evangelho, guardando a verdadeira fé. Assim, a cada dia, para saberem se vocês ainda são católicos, será necessário ler a primeira página do La Repubblica – ndt.: jornal italiano do ateu Scalfaro.
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